O meu bebé nasceu antes do tempo. Devo ter cuidados adicionais na vigilância do seu desenvolvimento?

O nascimento de um bebé, apesar de ser um acontecimento de grande alegria e felicidade para os pais, é algo que poderá gerar alguns medos e preocupações. Quando este momento ocorre antes da data prevista, maior é a dimensão destes sentimentos.

O bebé prematuro nasce com uma imaturidade dos seus órgãos e sistemas, o que o torna mais vulnerável a determinados problemas e mais sensível a determinados fatores externos (como a luz e o ruído). Estes bebés, principalmente os que nascem antes das 35 semanas de gestação ou aqueles que nascem com muito baixo peso, necessitam de uma atenção especial e de cuidados extraordinários para amadurecer biologicamente fora do ambiente protetor que é o útero da mãe.

O desenvolvimento dos bebés prematuros, incluindo o desenvolvimento físico, intelectual, social e a capacidade de comunicação, poderá ser diferente do padrão típico de um bebé de termo, com o tempo de gestação completo. O facto do bebé nascer antes do tempo, poderá comprometer ou alterar o timing de aquisição de várias competências em todas estas áreas do desenvolvimento. A idade gestacional e o peso à nascença, bem como as possíveis complicações a que são sujeitos no período neonatal, são aspetos que irão influenciar a evolução destes bebés.

Aproximadamente 1 em cada 10 bebés nasce prematuro todos os anos em todo o mundo. Cerca de 10% dos bebés portugueses nascem antes do tempo, ou seja, antes das 37 semanas de gestação, o que significa que uma parte importante do seu desenvolvimento do terceiro trimestre de gestação é realizado em meio extra-uterino, fora do ambiente natural que iria permitir o seu desenvolvimento adequado.

Após o nascimento, os bebés prematuros são colocados num ambiente altamente tecnológico que, apesar de necessário para a sua sobrevivência, é de elevado risco para alguns órgãos, como o cérebro, os pulmões, os olhos e os intestinos. As Unidades de Cuidados Intensivos e Especiais Neonatais (UCIEN) são geradoras de estímulos, por vezes nocivos. O ambiente é ruidoso e com luz excessiva, face ao que seria suposto o bebé experienciar nesta fase gestacional. Os equipamentos e as inúmeras pessoas que prestam cuidados, podem ser fatores de stress para o recém-nascido.

Estudos demonstram que o ambiente influencia o desenvolvimento do cérebro fetal através dos sentidos (visual, auditivo, cutâneo tátil, somestésico, cinestésico, olfativo e gustativo), e deste modo, diferentes estratégias são adotadas nas UCIEN para modificar o ambiente extra-uterino, com o objetivo de reduzir o stress provocado aos recém-nascidos.

A prematuridade pode ser causa de sequelas major como paralisia cerebral, déficit cognitivo, alterações neurosensoriais graves, ou disfunções cerebrais minor, como atraso da linguagem, déficit de atenção e hiperatividade, alterações do comportamento, labilidade emocional e perturbação do desenvolvimento da coordenação. Tudo irá depender de uma complexa interação entre os fatores biológicos inerentes à prematuridade (peso à nascença, idade gestacional) e os fatores ambientais, que atuam sobre o cérebro imaturo e vulnerável destas crianças.

É por todas estas razões que estas crianças necessitam de ser acompanhadas em programas de seguimento multidisciplinar para rastreio e intervenção precoce, bem como para apoiar e orientar as famílias por forma a favorecer o crescimento e o desenvolvimento desde a infância até à vida adulta.

O fisioterapeuta pediátrico faz parte da equipa que acompanha os bebés prematuros, não só durante o internamento nas primeiras semanas de vida, como após a alta hospitalar, durante pelo menos os primeiros dois anos de vida.

É essencial vigiar e avaliar o neurodesenvolvimento da criança em algumas etapas chave, a fim de prevenir e detetar precocemente possíveis perturbações resultantes da prematuridade. Destacam-se as etapas das 40 semanas, três meses, seis meses, nove meses, doze meses, quinze meses e dezoito meses de idade corrigida, bem como os 24 meses de idade real. No primeiro ano de vida, especial atenção deve ser dada à evolução motora do prematuro, com a avaliação do tónus muscular, postura, mobilidade e força muscular.

O fisioterapeuta realiza a avaliação motora e do neurodesenvolvimento, e faz o ensino aos pais sobre as estratégias a adotar em casa, adequadas a cada fase do desenvolvimento da criança. Caso seja necessário, a criança pode iniciar um programa de intervenção de fisioterapia para estimulação do desenvolvimento psico-motor. Quanto mais cedo e precocemente a intervenção começar, maiores serão as suas probabilidades de sucesso e de minimização do impacto à medida que a criança cresce e se vai desenvolvendo.

Se o seu bebé nasceu prematuro, vigie o seu desenvolvimento psico-motor! Os pediatras irão vigiar a cada consulta os aspetos-chave do desenvolvimento do seu bebé, mas ninguém melhor que os pais conhece o seu filho. Caso identifiquem alterações no desenvolvimento ou sinais que os preocupem, devem informar prontamente o pediatra para que seja encaminhado o mais precocemente possível para uma avaliação ou intervenção por parte do fisioterapeuta pediátrico.

 

Maria João Fidalgo      

Fisioterapeuta Especialista em Pediatria